quarta-feira, 6 de abril de 2016

Bem-vindo ao meu Mundo! - Capítulo 5



Não consigo controlar

Naruto não conseguiu lembrar a hora que dormiu. Apesar de estar cansado, o momento mais difícil pra ele foi aceitar o convite para dormir na cama ao lado de Ichigo. Apesar de ter conhecido Ichigo naquele mesmo dia, não entendia o motivo de tamanha falta de concentração e timidez. Alguma coisa dentro dele fazia seu estômago vibrar, seus dedos tremerem. A melhor coisa que o aconteceu foi dormir rápido.
♦ ♦ ♦

Ele levantou com a luz forte do sol no rosto. O quarto estava com uma cor mais bonita, o azul era suave. Alguém o abraçava por trás e ele não sabia quem era. Era um braço diferente, ele não reconheceu. Mesmo assim, estava muito confortável. Sua cabeça estava apoiada por cima de um dos braços. Ele se aconchegou ainda mais, puxou o braço que estava por cima dele para baixo, envolvendo-o ainda mais e se aproximou do corpo que estava atrás dele. Até que lembrou onde estava e quem dormia ali. Ele estava num mundo que não era o dele. O menino de cabelo laranja estava a abraçá-lo e ele se sentia bem. Não sabia o que poderia assustá-lo mais. Ichigo. Esse era o nome dele. Começou a tirar o braço dele de cima de si, mas Ichigo se mexeu e o puxou para mais perto, respirando na sua nuca e encostando todo o corpo no dele. Naruto se arrepiou e corou. Ele não queria viver aquela situação, mas não conseguia negar que estar nos braços de Ichigo o fazia bem. Ichigo pareceu ter falado bem baixo, Naruto não entendeu muito bem. Virou-se para olhar o rosto do garoto e Ichigo parecia dormir, mas o puxou de novo pra perto dele. Naruto agora estava com o corpo colado ao do Ichigo, apoiava sua mão no peito dele. Aquilo estava o matando por dentro. Ichigo era um estranho, não podia ter este poder sobre ele. Por quê? Como? Naruto estava perdido com as sensações que sentia. Sua mente lutava contra seu coração que também lutava contra seu corpo. Ele não resistiu e ficou excitado com Ichigo abraçando-o forte e mantendo-o tão junto. Sua mão deslizou do peito para a nuca de Ichigo, chegando ao cabelo. Naruto lembrou-se da primeira vez que pôde pentear o cabelo ruivo do garoto com suas próprias mãos, lembrou-se da maciez. Apoiou sua testa no queixo dele. Seu braço esquerdo estava preso entre os dois corpos, a mão alcançava a perna dele. A mão direita desceu do cabelo para as costas. Fechou os olhos, sentiu aliviado por não pensar mais em não querer viver aquilo. Ele amou viver aquilo. Abriu os olhos e Ichigo estava a olhar pra ele. Seu coração congelou. Não falaram nada, só permaneceram ali. Ichigo levou a mão ao rosto de Naruto e acariciou seu rosto. Uma onde de carinho, felicidade e tesão circulou pelo menino ninja. Ele permitiu deixar a onda levá-lo. Ichigo passou as mãos em seus cabelos e repousou no queixo dele, levantando um pouco e aproximando para seu rosto. Naruto pensou no que aconteceria depois daquilo e abaixou a cabeça, empurrando-o para trás. Ichigo levantou novamente o rosto dele. Naruto tremia todo o corpo. Mas seu corpo parecia ir para longe, distanciando de tudo cada vez mais, até acordar.
♦ ♦ ♦

O choque foi tão grande que nem percebeu que tinha caído ao chão, mesmo assim, o barulho foi alto. Rukia abriu o armário num instante e Ichigo colocou a cabeça pra fora da cama.
– O que houve contigo? - Ichigo perguntou.
– Parece que um elefante caminhou pela casa. Que barulho foi esse! Deve ter acordado toda a vizinhança – comentou Rukia.
– Eu... Eu... – Naruto não sabia o que dizer.
– Levante daí. Que horas são? – disse Ichigo.
– Vamos atrasar para a aula, Ichigo! Seu despertador não funcionou de novo! – Rukia disse.
– Mas e eu? – Naruto se sentia perdido. – Pra onde eu irei? O que vou fazer?
– Rukia conseguiu fazer alguns documentos falsos com o Urahara-san. Vamos te levar para a escola.
– Aqui vocês também possuem escola ninja? – perguntou Naruto, não conseguindo disfarçar a felicidade.
– Que ninja o quê! Aqui existem pessoas normais – Rukia gostava de implicar com o ele.
– Pois aquela tal de soul society deve ser um lugar cheio anão chato e resmungão igual a você.
– Enquanto vocês estão a discutir aí, eu já vesti minhas calças – Ichigo não pareceu demonstrar interesse para a briga boba.
Rukia entregou o traje novo ao Naruto. “Porque eles vestem isso? É tão esquisito.” Uma calça e um casaco cinza com detalhes vermelhos na gola e no bolso, uma camisa branca, um par de sapatos de couro e um par de meias brancas. Pegaram uma mochila velha da Yuzu e o entregaram. O pai não estava em casa e nem as irmãs de Ichigo, por isso, todos desceram até a cozinha e tomaram café da manhã. Naruto se sentia meio estranho, entrou num mundo completamente diferente do dele. Saíram de casa e correram para a escola. Ichigo começou a gritar para que não fechassem os portões antes que eles entrassem, e pela boa vontade dos monitores, eles entraram.
– Vocês estão muito atrasados – disse um dos monitores.
– Mas já estamos aqui não é mesmo? – Ichigo falou com um sorriso sarcástico no rosto, depois olhou para Naruto com um ar animado. – Vamos correndo, não quero ouvir o professor falando no meu ouvido depois e você ainda tem que se apresentar na coordenação.
Naruto não respondeu, mas acenou com a cabeça. Não queria demonstrar como aquele momento com Ichigo o intrigava. Não queria lembrar-se do sonho que tivera e não sabia o que o garoto pensava em relação a ele. Tudo precisava continuar no anonimato. Foram correndo para a coordenação e Ichigo apresentou Naruto por lá. Naruto olhava para todos os detalhes do ambiente onde estava, observava os comportamentos dos alunos e das outras pessoas. Este era o segundo dia dele no mundo de Ichigo e ainda não estava acostumado. O pior disso tudo era saber que um garoto de universo diferente o fazia sentir o coração bater desordenadamente. “Aqui é tudo muito quadrado, muito cinza, tem casas altas e muitos lugares sem árvore, além de não ventar direito. Será que estão procurando por mim lá na minha aldeia? Como vão saber que usei aquele jutsu? Pensarão que me escondi em algum lugar e ficarei com fama de ladrão... Não posso acreditar que deixei o Mizuki-sensei me enganar. Aquele pergaminho não me ajudou em nada, só me trouxe confusão. Eu tenho que voltar o mais rápido possível para lá e resolver todo este mal entendido”. E perdido nos pensamentos, não ouviu que estavam a falar com ele.
– ...por isso, não fique distante. Naruto, está me ouvindo? Tá com uma cara de idiota aí – disse Ichigo.
– Eu estava...
– Uzumaki Naruto! – disse uma senhora em frente à porta de uma sala.
– Ele mesmo, senhora Yamata – falou Ichigo. – A partir de hoje, ele vai ficar estudando aqui nesta escola. Primo distante da minha família. Vai ser um ótimo ano para ele.
– Sim, senhora. Sou parente da família do Ichigo – Naruto disse, mas surpreso com a história que Ichigo inventara. – Eu prometo que irei me esforçar.
– Bem, vou pra sala de aula, senhora Yamata. Com, licença – disse Ichigo, parecendo mais simpático que o normal.
Naruto não sabia muito bem o que fazer sem Ichigo por perto, mas confiou na senhora que estava com ele. Ela o levou para a biblioteca, onde pegou seu material de estudo. Depois, foi passando em alguns lugares da escola, explicando o que era cada sala e onde ficavam as áreas de esporte, desenvolvimento dos clubes e outras coisas. Mas uma coisa ficou parada na cabeça dele. Ichigo disse que seria um ótimo ano para ele. “Um ano inteiro? Que dia é hoje? Quanto tempo ficarei preso neste mundo?” Eram muitas perguntas e elas o deixaram completamente desnorteado. O tempo que corria naquele mundo poderia ser diferente no tempo que corria no mundo dele, ou talvez não, mas talvez sim. Imagine se o tempo em Karakura fosse mais lento que o tempo em Konoha? Quando ele voltasse para seu mundo, todos estariam mais velhos que ele. Era a segunda vez em pouco tempo que ele se perdia nos pensamentos. Sua cabeça estava aflita por tantos momentos loucos que estava a viver. Aparentemente, ele não tinha muito com o que se preocupar no mundo quadrado de Ichigo. As pessoas não pareciam dominar seus chakras ou conseguir usar acessórios ninjas. Eram apenas pessoas que cuidavam da casa e andavam pela cidade com roupas esquisitas, ou deveriam estar a trabalhar. Contudo, ele queria voltar pra casa.
– Naruto, esta será tua sala de aula. Espero que tenhas um bom desempenho e consiga fazer novos amigos – falou a senhora muito dócil e carinhosa.
– Sim! – Naruto disse, corando um pouco.
A senhora fez um sinal para a mulher que estava dentro da sala. Ela abriu a porta e saiu da sala, seu sorriso era lindo. Senhora Yamata apresentou a professora Misato ao menino ninja e eles se cumprimentaram. Depois de algumas introduções, a professora levou Naruto para dentro da sala e o apresentou para a turma. Naruto estava mais vermelho que um tomate maduro. Não conseguia olhar para todos da turma, mas não teve como escapar. Assim que levantou a cabeça para achar um lugar para sentar, viu que Rukia e Ichigo estavam nas carteiras no fundo da sala e, entre os dois, tinha uma carteira vazia. Ambos com expressões maliciosas. Naruto não sabia muito bem como seria o dia dele, mas sempre que olhava para Ichigo, sentia-se seguro e confortável. Ao mesmo tempo em que gostaria de voltar para seu mundo, não queria perder o contato com Ichigo. Passou como um raio entre os alunos até chegar à carteira vazia. Apesar de ter visto uma carteira vazia na frente da sala, não hesitou em estar com o garoto que mexeu com ele.
– Naruto, só fique alerta, tudo bem? Caso apareça algum hollow, eu precisarei que cuide do meu corpo novamente, mas tente não deixa-lo com nenhum dos teus clones – falou Ichigo.
– Eu não tenho obrigação de cuidar do corpo de ninguém – falou Naruto, com seu jeito irritante.
– Rukia, fale pra ele que sem nós, ele não saberá como voltar ao mundo dele?
– Urahara disse que pode encontrar uma maneira para te levar de volta ao seu mundo – confirmou Rukia. – Disse que só precisará realizar alguns testes contigo, pois não será uma tarefa simples.
– Eu faço o que for preciso. Só quero sair desse lugar – tentou disfarçar seu pensamento indeciso.
– Então, crianças, abram o livro de História na página 37. Hoje, a aula vai ser os guerreiros antigos e como eles afetaram e são importantes para nossa cultura – falou a professora.
O tempo passou rápido pra Naruto. Ele, mais uma vez, percorreu pela imaginação e pelas possíveis chances dele conseguir voltar para casa. Se este tal de Urahara realmente conseguisse fazer com que ele voltasse, ele teria um dor de cabeça enorme, mas seria fantástico estar de volta com seus amigos. “Mas eu não tenho amigos...”. Ele ficou um pouco decepcionado com a verdade que aquele pensamento trouxe. Ele não tinha amigos em Konoha. Tentava chamar a atenção das pessoas e se esforçava bastante, mas não tinha amigos. Gostava de uma menina com cabelo rosa, ela era inteligente e bonita, porém, ele sabia que ela gostava era de outro garoto, um garoto com alto desempenho na escola ninja e com grandes chances de se formar. Ele não tinha amigos, nem família ou alguém para ter motivos para voltar. Mas o Iruka-sensei deve ficar feliz em me ver. Ele deve ser o único que me procuraria. Ou talvez fosse melhor continuar em Karakura e tentar viver neste mundo mesmo. Até mesmo porque o garoto do cabelo laranja estava o fazendo muito bem.
– Naruto, acorda! Por que não foi pra aula de educação física? O que está acontecendo contigo hoje? – perguntou Ichigo. – A aula já acabou e tu não parece estar ligado nas coisas. Todos já foram embora.
– Eu só estava pensando em voltar pra casa, mas...
– Ichigo! Meu sensor de espíritos está localizando uma força espiritual muito forte de aproximando – gritou Rukia, entrando na sala de aula. – Pode ser um hollow muito forte. Vamos logo! Apresse-se!
– Aaaa. Vambora! Naruto, venha com a gente! Rápido!
– O...okay!
Eles pegaram suas mochilas e correram para fora da escola. Estava quase próximo ao horário do pôr do sol e Naruto não percebeu que dormira durante todo o tempo. Seguiram a indicação da localização da tal grande força espiritual, mas parecia que ela se mexia com rapidez. Passaram por ruas, becos e parques. Não havia destruição e nem marcas que hollows costumam deixar. Até que desapareceu. Rukia parecia estar tão confusa quanto os outros dois.
– Sumiu... Como assim sumiu? – falou Rukia.
– Isso deve estar quebrado – falou Ichigo.
– Claro que não, não tem como errar.
– Vamos fazer o quê agora? – perguntou Naruto?
– Bem, eu vou até o Urahara pra saber sobre um produto novo dele – explicou Rukia. – Ichigo, você deve cuidar desse pequeno aí. Também vou querer saber mais explicações sobre esse ser com essa força espiritual.
– Tá legal. Te encontrarei no meu quarto.
– Isso soa meio pervertido, não é Ichigo? – brincou Naruto.
– Criança você nem tem idade pra saber o que é perversão – falou Ichigo. – Está com fome? O que quer comer?
– LAMEN! Nem tem como pensar duas vezes.
– Vamos pra casa então.
Naruto sentiu uma onda de ansiedade correr pelo corpo. Ele não podia negar que seu interior estava completamente tomado pelo desejo de estar com Ichigo. Era como a fome e o sono. Era forte e não tinha como domar. Ele só queria estar com ele naquele momento. Ele não sabia até quando iria sentir aquilo e nem sabia das consequências do seu futuro depois que foi parar em Karakura. Ele só se permitiu sentir.
Caminharam pela cidade e Naruto foi observando como eram as coisas pela cidade. De um lado estava a padaria, do outro lado era o mercado, numa rua estava o açougue, na outra rua tinha uma loja de brinquedos. Os carros e ônibus foram deixando de ser estranhos pra Naruto. As roupas eram mais normais e até confortáveis. A forma que Ichigo apresentava seu mundo para ele deixava-o tranquilo e sereno. Quase fazia-o esquecer de onde tinha vindo. Chegaram a casa e Ichigo apresentou Naruto como amigo da escola. Yuzu disse que sentiu uma sensação familiar ao tê-lo visto, mas eles disfarçaram bem. O jantar foi lamen e Naruto comeu até não aguentar mais. Era sua refeição predileta. Ichigo comentou que ele passaria algumas noites até os pais dele voltarem de viagem. De certa forma, isso tocou Naruto, pois ele nunca teve pais. Entretanto, se sentia dentro da família de Ichigo ao estar a jantar com eles.
Subiram para o quarto e Ichigo entregou roupas limpas para Naruto.
– Muito bem, vá tomar banho e troque de roupa. O cesto de roupa suja fica no corredor lá em baixo. O banheiro é logo depois da cozinha, na porta à esquerda.
– Ichigo... – Naruto começou. – Eu...
– O quê?
– É que eu... gostaria de... – ele travou. Não sabia como dizer que se sentia agradecido por Ichigo ter cuidado dele por esses dois dias.
– Gostaria de...?
– Gostaria de saber se vamos acordar cedo amanhã? – foi a pior desculpa que ele conseguiu arranjar.
– Sim... Vamos sim... A escola abre às sete da manhã. Precisamos chegar mais cedo pra pegar teu armário e resolver algumas coisas.
– Hm, entendi. Bem, vou lá – disse Naruto, virando-se para abrir a porta e sair do quarto.
– Naruto, antes eu quero te falar um coisa.
Naruto gelou e todas suas células estavam petrificadas. Ele nem conseguiu olhar pra Ichigo. Só sentiu Ichigo abraçá-lo por trás e ouvi o menino falar no pé do seu ouvido.
– Não sei explicar, mas, por favor, não suma.
Aquelas palavras de Ichigo chegaram ao sentimento mais profundo que Naruto sentira em toda a vida. Destruíram toda a estabilidade que ele estava tentando manter. Corromperam sua estrutura forte e, ultrapassando o vulnerável, o tornaram completamente frágil. Sentiu os braços de Ichigo o apertar ainda mais. As peças de roupa que segurava nas mãos caíram ao chão e suas mãos se enrijeceram. Dava pra sentir o batimento do coração de Ichigo em suas costas, assim como a respiração desordenada em sua nuca. Ichigo tentou virar Naruto, mas na hora em que tentou, o menino louro abriu a porta e desceu as escadas numa velocidade tremenda, mas antes de chegar à cozinha, Karin apareceu na sua frente.
– Oi! Seu nome é Naruto, não é? É que chegou um parente seu aqui.
Naruto não conseguiu nem responder, apenas olhou para a direção da sala e viu a garota em pé.
– Sakura?!