quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Bem-vindo ao meu mundo! - Capítulo 4

Teu íntimo mexe comigo

Naruto ficou imóvel por um tempo sem falar uma única palavra. Ele tinha deixado o corpo de Ichigo com seu clone, mas Ichigo sabia que não poderia ter confiado tanto. Como foi que os dois desapareceram? “O que eu vou fazer agora?”, pensou Ichigo. Um milhão de hipóteses passavam pela cabeça dele e ele não sabia como resolveria aquilo. Um corpo só se torna fácil de ser achado quando eles procuram pela força espiritual. É como se exalassem um cheiro da alma. Bom, precisavam encontrar o corpo de Ichigo para ele poder voltar à forma humana e para que não o considerem morto. Seria um problema grande se isso acontecesse. Correram para abrir a caçamba do lixo, mas um gato pulou no rosto do Naruto e deu um susto. O beco estava vazio e não tinha outro lugar para eles estarem se não fosse ali dentro.
– Primeira coisa que temos que fazer é trocar a roupa ridícula desse menino – disse Rukia. – Ele já chama atenção com esse cabelo louro espetado e essa roupa laranja. Pra que essa bandana na perna? Que estilo horroroso é esse que sua aldeia usa? Eu não lembro de ver nenhum de vocês pela soul society.
– Olha só menina, você não é muito anã pra querer falar da aparência dos outros? – respondeu Naruto. – Eu mesmo vou encontrar o corpo do Ichigo. O jutsu do clone das sombras me faz ter controle do meu clone e isso pode ser útil para mim. Vocês ficariam perdidos sem a minha ajuda. Por isso, parem de reclamar.
– Naruto! Você tem noção do que fez? Foi irresponsável demais! Como eu pude confiar num garoto de 12 anos! – disse Ichigo inconformado. Ele não ainda estava a aceitar que seu corpo tinha sumido.
– Eu não sou um moleque, tudo bem?!
– Você é um moleque sim!
– Parem de gritar! – disse Rukia. – Tem pessoas vindo para a nossa direção e precisamos ser discretos. Ichigo e Naruto, voltem para casa. Ichigo trate de deixá-lo o mais apresentável possível. Vou tentar sair desse beco naturalmente.
Rukia mal tinha finalizado as instruções e Naruto já tinha pulado de parede em parede para chegar ao telhado da casa mais baixa. Ichigo fez um sinal para Rukia e acompanhou Naruto. “Eu espero que não eu tenha subestimado demais esse garoto”, pensou. Mesmo com o deslize de Naruto, Ichigo percebia que ele era um menino com bom coração e que só era desastrado e enrolado, mas não fez por mal. Porém, esse erro poderia lhe custar a vida humana. Ichigo foi pulando de telhado em telhado e Naruto foi seguindo seus passos. Nenhum dos dois trocaram palavras descontraídas, somente um aqui ou ali ou cuidado com isso e com aquilo. Ichigo estava muito chateado com aquela situação. Depois de um tempo, chegaram em casa e entraram pela janela do quarto do Ichigo que fica no segundo andar.
– Antes de qualquer coisa, tente não fazer algum som alto. Se for falar, fale baixo e seja cuidadoso, apesar de saber que isso é quase impossível pra ti. Próximo ponto, minhas roupas evem ficar grandes em você, mas a gente tenta achar algumas mais ajustadas. Último, lembre-se que você é humano e as pessoas podem te ver – explicou Ichigo, tentando ser o mais paciente possível.
Naruto revirou os olhos e concordou com a cabeça fazendo um sinal de positivo. Ichigo abriu o armário e começou a revirar as roupas. Ele não era um garoto de ter muitas peças diferentes, não gostava da moda, seguia seu próprio estilo. Pegou uma camisa branca sem estampa, um blusão quadriculado laranja, uma calça preta, meias brancas e um all star preto. Eram peças que ele não usava há muito tempo e poderiam caber em Naruto. Quando Ichigo olhou para trás, Naruto estava sentado na cama, olhando pra baixo. Ele sentia algo pelo menino que não sabia explicar muito bem. Era um desejo de querer proteger com curiosidade e um pouco de carinho. “Acabei de conhecê-lo, não pode ser isso”. Tinha passado da hora do almoço e Ichigo conseguiu ouvir o ronco da barriga do menino ninja. Na forma de espírito ele não sentiria fome, mas assim que voltasse para seu corpo humano, a fome e as outras necessidades fisiológicas viriam com força total.
– Por que ainda está sentado na cama? Já pode tirar a roupa. Pra vestir essas que coloquei na cama. Somos dois meninos, não tem problema em ficar de cueca para mim.
– Ah… Sim, é que… tudo bem.
– Tudo bem, menino ninja. Ficarei de costas para ti.
Não poderia ter certeza, mas Ichigo notou que Naruto deu uma leve corada. Meninos jovens sentem bastante timidez, ainda mais na frente de pessoas que eles não conhecem. Ichigo conseguiu disfarçar uma leve curiosidade que sentia em poder ver o menino sem aquela fantasia. “Eu sou um garoto e ele também é, de onde está surgindo esse nervosismo, Ichigo?”, pensou, criando dúvidas a cada instante. Os sons metálicos o deixaram com ainda mais vontade de olhar para trás. “O que são essas coisas?”. Mesmo assim, ele se controlou e olhou apenas para a porta de seu guarda-roupa. Depois de um tempo, o silêncio tomou conta do cômodo. Nem ele, nem Naruto falaram alguma coisa. Eu ouvia o som o coração batendo forte. Precisava quebrar aquele gelo ou ficaria ainda mais sufocado com a situação.
– Já vestiu a roupa? – perguntou Ichigo.
– Não, é que… eu… minha cueca está muito suada. Você poderia me emprestar alguma nova ou lavada? – Naruto disse, com a timidez nítida na sua voz.
– Cueca? – Ichigo disse um pouco alto. Ficara completamente sem jeito com aquele pedido de Naruto. – Tenho umas que nunca usei aqui. Acho que vai servir em ti.
Suas mãos tremiam de nervoso e ansiedade. Ele até esqueceu em qual gaveta guardava as cuecas, só foi achar na última gaveta que não tinha aberto. Pegou uma cueca vermelha e a apertou. Ele não conseguia mais segurar a vontade de olhar pra trás e olhar Naruto. Devagar, fechou a porta do armário e foi virando para a direção do menino. Naruto estava sentado na cama, com as mãos cobrindo sua parte íntima e muito corado. Ichigo se surpreendeu quando viu que na pele branca do garoto havia cicatrizes. Ele ela magro, os olhos azuis ressaltaram mais depois que tirou a roupa laranja. “São lindos e tão profundos”. Ele parecia se espremer de vergonha. Ichigo achou aquilo muito delicado e fofo.
– Aqui… está a cueca… que você me pediu.
– Obrigado – respondeu Naruto. – Pode virar pra trás de novo agora.
– Ah sim. Tudo bem. É que eu tinha esquecido que você é tão… esquece – Ichigo falou, querendo enfiar a cara na parede depois do que disse. – Só vou pegar suas coisas sujas pra colocar pra lavar depois…
Ichigo olhou o que queria não queria ao mesmo tempo. Por talvez um segundo ou menos viu Naruto nu. Foi algo que nem deu tempo dele reagir. Puxou a camisa laranja e nem notou que existiam shurikens em cima dela. Um barulho alto e abafado do baque do metal pesado ao chão fez os dois pararem de se mover.
– Ichigo, estás em casa? – veio uma voz masculina do lado de fora do quarto, parecia o pai de Ichigo.
– E agora Ichigo? Parabéns, ele consegue me ver! – disse Naruto, mais envergonhado do que antes.
– Calma, entra no armário! – disse Ichigo tentando controlar o deslize que teve minutos antes. – Só entra logo!
– Não é você que está semi nu na casa de outra pessoa!
– Parece de falar! Ele te ouvir!
– Ichigo? Eu ouvi uma voz. Vou entrar, hein.
Ichigo pegou todas as roupas de uma vez só, embolando com o lençol da cama e enfiou dentro do armário, com Naruto lá dentro, escondido por baixo da bagunça toda. Assim que fechou a porta do armário, seu pai abriu a porta do quarto. Ele olhou desesperado como se estivesse sendo visto. O pai de Ichigo entrou no quarto e fechou a porta. Ichigo chegou para trás até encostar na parede oposta ao armário. “Não mexe aí, pai! Vá embora!”. O pai de Ichigo parecia perceber que tinha alguém dentro do quarto e foi direto para o armário.
– Não, não, não.. – disse Ichigo baixinho ao ver o pai abrindo a porta do armário.
– Eu sei que tem alguém aqui! Ichigo, para de brincadeira ridícula.
– Pai! Um tarado de cueca aqui em baixo apareceu do nada na sala! – Yuzu gritou do andar de baixo.
– Eita, caramba! – falou Ichigo e foi correndo antes do pai para onde o garoto estava.
Desceu as escadas e foi até a sala, mas o garoto não estava mais lá.
– Ele apareceu e sumiu. Um menino louro só de cueca – disse Yuzu. – Mas era bonitinho…
– Ai, se eu pego esse tarado, minha filha! Ele fez alguma coisa contigo, meu anjo?

– Pronto… – suspirou Ichigo, conhecendo o pai que tem.
– Pare, pai! Está tudo bem. Foi muito estranho. Será que é coisa da minha imaginação?
“Onde você está, Naruto?”, pensou. Seu sensor espiritual, ou intuição, o fez sentir a presença de Naruto no quarto novamente, e sem pensar duas vezes, voltou a correr para o quarto.
– Como você sumiu daqui do armário e depois apareceu de novo? – perguntou Ichigo.
– Ichigo, sua família é louca e quer me matar! Depois explico esse jutsu – disse Naruto assim que viu Ichigo entrar pela porta do quarto. – Já estou quase todo arrumado.
– Não vamos perder tempo. Coloque logo o blusão e os sapatos e vamos sair daqui – Ichigo disse.
Ambos pularam a janela do quarto e foram para onde o clone de Naruto poderia estar. Ichigo pediu para que ele não pulasse pelos telhados das casas, pois isso poderia chamar atenção demais. Ele disse que estava a sentir a presença do clone cada vez mais perto. Viraram mais uma esquina e pegaram uma rua longa.
– Andar cansa mais, não é? – comentou Ichigo. Naruto só balançou a cabeça. Muitas pessoas caminhavam pelas ruas e ele não poderia falar sozinho. – Quando estamos em forma de espíritos, sentimos algumas sensações humanas com pouca frequência e com menos intensidade. Olha, apesar de ter perdido meu corpo, eu sei que tu confias no teu clone e acredito que está tudo bem. Não estou mais tão chateado.
Naruto olhou para Ichigo e deu um sorriso sem jeito.
– Desculpe por ter te visto trocando de roupa, sei que não estava muito confortável pra você. Eu fiquei meio sem jeito também, é que outra vez, quando eu…
– Achei. Acho que cheguei na casa certa – disse Naruto.
– Hm. Aqui é a casa de uma amiga da minha escola. Tem certeza? – perguntou Ichigo.
– Vou bater à porta.
Não demorou muito e uma menina bonita ruiva abriu a porta. Ela usava presilhas no cabelo e tinha seios grandes. Naruto mal conseguia olhar pra outra coisa.
– Ué, como você trocou de roupa tão rápido? – ela disse.
Ichigo entrou enquanto ela falava e avistou seu corpo deitado num colchonete. Assim que fez a passagem para o seu estado humano, sentiu tudo aquilo que deveria sentir de uma única vez. Fome, cansaço, dor na cabeça, sede e vontade de usar o banheiro. Deu uma longa puxada de ar com a boca, parecia que não respirava por anos. O que aconteceu enquanto ele estava longe de seu corpo? “Nossa, estou um caco!”. Deu uma leve gemida e levou a mão até a cabeça. Ele tinha um pequeno galo na testa e estava sem camisa.
– Ai, minha cabeça… – Ichigo gemeu.
– Ichigo! Você acordou. Eu jurava que estava em coma – falou a menina.
– Orihime? Onde me achou? – perguntou.
– Ué, seu louco? Você estava caído no beco com aquele menino louro ali, mas ele usava uma roupa de cosplay que eu não conhecia. Eu quase fui atropelada hoje quando voltava de umas compras. As coisas foram muito loucas hoje. Quando estava no caminho pra casa, te vi sendo carregado pelo garoto mudinho. Eu e Sado-kun te trouxemos pra cá e te demos um banho – Orihime explicou.
– Um banho!
– Sado que fez essa parte, fique tranquilo, eu juro que não vi nadinha!
– Mas precisava disso? Cadê o Sado?
– Eu dei um banho profissional – falou Sado.
– O que seria um banho profissional? – Ichigo já estava ficando confuso.
– Você estava com cheiro de salmão estragado, com chorume e alcaparra com mostarda e limão – falou Orihime.
– Mas como isso aconteceu? Cadê Naruto?
– Ué, ele estava aqui agora mesmo. Pra onde foi?
– Não é a criança que está atacando sua geladeira? – falou Sado.
Ichigo levantou num pulo e foi até a cozinha. Naruto estava deitado com a barriga um pouco pra fora da camisa. Tinha em uma das mãos uma caixa de suco de laranja e na outra tinha um rachi. Seu rosto estava meio sujo e vários potes vazios estavam pelo chão.
– Naruto! O que está fazendo? – gritou Ichigo.
– Eu não estava aguentando mais! Apesar do gosto estranho que a comida tem, foi mais forte que eu. Desculpe.
– Está tudo bem, eu compro mais amanhã – falou Orihime com seu jeito dócil de sempre. – Ichigo, eu preparei isso aqui pra quando você acordasse.
Ele teve que pensar duas vezes, conhecia os dotes culinários que a amiga possuía e não eram bons, mas ele aceitou o bento com os alimentos estranhos e começou a comer com a mão mesmo. A fome estava maior que qualquer outra coisa que ele estava a sentir. Bebeu quase um litro de leite de uma vez só pra tirar o gosto ruim da comida. Ichigo nunca tinha sentido uma fome e uma sede como aquelas. Logo depois, sentiu um sono forte bater.
– Orihime, obrigado pela refeição e pelos cuidados. Tenha cuidado da próxima vez que atravessar a rua. Precisarei ir, tudo bem?
– Mas já? Poxa, achei que fosse ficar mais.
– Eu e Naruto precisamos fazer umas coisas ainda, não é Naruto? – Ichigo lançou um olhar feroz para o menino que só pode concordar.
Se despediram de todos e partiram de volta para a casa. Sua família estava pronta para o jantar, mas ele passou direto e foi subindo para o quarto. Naruto estava logo atrás dele.
– Cheguei com um amigo da escola, não jantarei, não incomodem, estaremos no quarto.
Nem deu tempo que apresentações e eles já estavam no quarto. Ichigo caiu na cama. Rukia surgiu de dentro do armário, dando um susto nos dois. Apesar dele saber que ela dormia escondido ali, nunca se acostumou com aquilo.
– Ichigo, achou seu corpo! Onde estava, o que houve? Por que está cheirando bem? Por que vocês dois estão parecendo dois zumbis?
Sem nem dar tempo de resposta, Ichigo foi caiu na cama. Naruto deitou no chão, com a barriga pra cima.
– Anã, hoje foi um dia bem louco – disse Naruto.
– Anã é a tua bunda branca, seu pirralho! Me respeite – disse Rukia, inquieta.
– Rukia, deixe isso pra amanhã. Precisamos descansar. Naruto, não vai dar pra arrumar um lugar pra você dormir hoje. Pode dormir aqui na cama hoje, eu ficarei de costas pra você.
– Só vou ficar deixar passar dessa vez porque vocês estão me dando medo – falou Rukia, fechando a porta do armário.
Naruto se levantou e deitou na beirada da cama. Ichigo virou para a parede e fechou os olhos. Não demorou muito pro sono vir, foi quase instantâneo. Ele apagou.

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