Teu íntimo mexe comigo
Naruto ficou imóvel por um tempo sem falar uma única
palavra. Ele tinha deixado o corpo de Ichigo com seu clone, mas Ichigo sabia
que não poderia ter confiado tanto. Como foi que os dois desapareceram? “O que
eu vou fazer agora?”, pensou Ichigo. Um milhão de hipóteses passavam pela cabeça
dele e ele não sabia como resolveria aquilo. Um corpo só se torna fácil de ser
achado quando eles procuram pela força espiritual. É como se exalassem um
cheiro da alma. Bom, precisavam encontrar o corpo de Ichigo para ele poder
voltar à forma humana e para que não o considerem morto. Seria um problema
grande se isso acontecesse. Correram para abrir a caçamba do lixo, mas um gato
pulou no rosto do Naruto e deu um susto. O beco estava vazio e não tinha outro
lugar para eles estarem se não fosse ali dentro.
– Primeira coisa que temos que fazer é trocar a roupa
ridícula desse menino – disse Rukia. – Ele já chama atenção com esse cabelo
louro espetado e essa roupa laranja. Pra que essa bandana na perna? Que estilo
horroroso é esse que sua aldeia usa? Eu não lembro de ver nenhum de vocês pela
soul society.
– Olha só menina, você não é muito anã pra querer falar
da aparência dos outros? – respondeu Naruto. – Eu mesmo vou encontrar o corpo
do Ichigo. O jutsu do clone das sombras me faz ter controle do meu clone e isso
pode ser útil para mim. Vocês ficariam perdidos sem a minha ajuda. Por isso,
parem de reclamar.
– Naruto! Você tem noção do que fez? Foi irresponsável
demais! Como eu pude confiar num garoto de 12 anos! – disse Ichigo
inconformado. Ele não ainda estava a aceitar que seu corpo tinha sumido.
– Eu não sou um moleque, tudo bem?!
– Você é um moleque sim!
– Parem de gritar! – disse Rukia. – Tem pessoas vindo
para a nossa direção e precisamos ser discretos. Ichigo e Naruto, voltem para
casa. Ichigo trate de deixá-lo o mais apresentável possível. Vou tentar sair
desse beco naturalmente.
Rukia mal tinha finalizado as instruções e Naruto já
tinha pulado de parede em parede para chegar ao telhado da casa mais baixa.
Ichigo fez um sinal para Rukia e acompanhou Naruto. “Eu espero que não eu tenha
subestimado demais esse garoto”, pensou. Mesmo com o deslize de Naruto, Ichigo
percebia que ele era um menino com bom coração e que só era desastrado e
enrolado, mas não fez por mal. Porém, esse erro poderia lhe custar a vida
humana. Ichigo foi pulando de telhado em telhado e Naruto foi seguindo seus
passos. Nenhum dos dois trocaram palavras descontraídas, somente um aqui ou ali
ou cuidado com isso e com aquilo. Ichigo estava muito chateado com aquela
situação. Depois de um tempo, chegaram em casa e entraram pela janela do quarto
do Ichigo que fica no segundo andar.
– Antes de qualquer coisa, tente não fazer algum som
alto. Se for falar, fale baixo e seja cuidadoso, apesar de saber que isso é
quase impossível pra ti. Próximo ponto, minhas roupas evem ficar grandes em
você, mas a gente tenta achar algumas mais ajustadas. Último, lembre-se que
você é humano e as pessoas podem te ver – explicou Ichigo, tentando ser o mais
paciente possível.
Naruto revirou os olhos e concordou com a cabeça fazendo
um sinal de positivo. Ichigo abriu o armário e começou a revirar as roupas. Ele
não era um garoto de ter muitas peças diferentes, não gostava da moda, seguia
seu próprio estilo. Pegou uma camisa branca sem estampa, um blusão quadriculado
laranja, uma calça preta, meias brancas e um all star preto. Eram peças que ele
não usava há muito tempo e poderiam caber em Naruto. Quando Ichigo olhou para
trás, Naruto estava sentado na cama, olhando pra baixo. Ele sentia algo pelo
menino que não sabia explicar muito bem. Era um desejo de querer proteger com
curiosidade e um pouco de carinho. “Acabei de conhecê-lo, não pode ser isso”.
Tinha passado da hora do almoço e Ichigo conseguiu ouvir o ronco da barriga do
menino ninja. Na forma de espírito ele não sentiria fome, mas assim que
voltasse para seu corpo humano, a fome e as outras necessidades fisiológicas
viriam com força total.
– Por que ainda está sentado na cama? Já pode tirar a
roupa. Pra vestir essas que coloquei na cama. Somos dois meninos, não tem
problema em ficar de cueca para mim.
– Ah… Sim, é que… tudo bem.
– Tudo bem, menino ninja. Ficarei de costas para ti.
Não poderia ter certeza, mas Ichigo notou que Naruto deu
uma leve corada. Meninos jovens sentem bastante timidez, ainda mais na frente
de pessoas que eles não conhecem. Ichigo conseguiu disfarçar uma leve
curiosidade que sentia em poder ver o menino sem aquela fantasia. “Eu sou um
garoto e ele também é, de onde está surgindo esse nervosismo, Ichigo?”, pensou,
criando dúvidas a cada instante. Os sons metálicos o deixaram com ainda mais
vontade de olhar para trás. “O que são essas coisas?”. Mesmo assim, ele se
controlou e olhou apenas para a porta de seu guarda-roupa. Depois de um tempo,
o silêncio tomou conta do cômodo. Nem ele, nem Naruto falaram alguma coisa. Eu
ouvia o som o coração batendo forte. Precisava quebrar aquele gelo ou ficaria
ainda mais sufocado com a situação.
– Já vestiu a roupa? – perguntou Ichigo.
– Não, é que… eu… minha cueca está muito suada. Você
poderia me emprestar alguma nova ou lavada? – Naruto disse, com a timidez
nítida na sua voz.
– Cueca? – Ichigo disse um pouco alto. Ficara
completamente sem jeito com aquele pedido de Naruto. – Tenho umas que nunca
usei aqui. Acho que vai servir em ti.
Suas mãos tremiam de nervoso e ansiedade. Ele até
esqueceu em qual gaveta guardava as cuecas, só foi achar na última gaveta que
não tinha aberto. Pegou uma cueca vermelha e a apertou. Ele não conseguia mais
segurar a vontade de olhar pra trás e olhar Naruto. Devagar, fechou a porta do
armário e foi virando para a direção do menino. Naruto estava sentado na cama,
com as mãos cobrindo sua parte íntima e muito corado. Ichigo se surpreendeu
quando viu que na pele branca do garoto havia cicatrizes. Ele ela magro, os
olhos azuis ressaltaram mais depois que tirou a roupa laranja. “São lindos e
tão profundos”. Ele parecia se espremer de vergonha. Ichigo achou aquilo muito
delicado e fofo.
– Aqui… está a cueca… que você me pediu.
– Obrigado – respondeu Naruto. – Pode virar pra trás de
novo agora.
– Ah sim. Tudo bem. É que eu tinha esquecido que você é
tão… esquece – Ichigo falou, querendo enfiar a cara na parede depois do que
disse. – Só vou pegar suas coisas sujas pra colocar pra lavar depois…
Ichigo olhou o que queria não queria ao mesmo tempo. Por
talvez um segundo ou menos viu Naruto nu. Foi algo que nem deu tempo dele
reagir. Puxou a camisa laranja e nem notou que existiam shurikens em cima dela.
Um barulho alto e abafado do baque do metal pesado ao chão fez os dois pararem
de se mover.
– Ichigo, estás em casa? – veio uma voz masculina do lado
de fora do quarto, parecia o pai de Ichigo.
– E agora Ichigo? Parabéns, ele consegue me ver! – disse
Naruto, mais envergonhado do que antes.
– Calma, entra no armário! – disse Ichigo tentando
controlar o deslize que teve minutos antes. – Só entra logo!
– Não é você que está semi nu na casa de outra pessoa!
– Parece de falar! Ele te ouvir!
– Ichigo? Eu ouvi uma voz. Vou entrar, hein.
Ichigo pegou todas as roupas de uma vez só, embolando com
o lençol da cama e enfiou dentro do armário, com Naruto lá dentro, escondido
por baixo da bagunça toda. Assim que fechou a porta do armário, seu pai abriu a
porta do quarto. Ele olhou desesperado como se estivesse sendo visto. O pai de
Ichigo entrou no quarto e fechou a porta. Ichigo chegou para trás até encostar
na parede oposta ao armário. “Não mexe aí, pai! Vá embora!”. O pai de Ichigo
parecia perceber que tinha alguém dentro do quarto e foi direto para o armário.
– Não, não, não.. – disse Ichigo baixinho ao ver o pai
abrindo a porta do armário.
– Eu sei que tem alguém aqui! Ichigo, para de brincadeira
ridícula.
– Pai! Um tarado de cueca aqui em baixo apareceu do nada
na sala! – Yuzu gritou do andar de baixo.
– Eita, caramba! – falou Ichigo e foi correndo antes do
pai para onde o garoto estava.
Desceu as escadas e foi até a sala, mas o garoto não
estava mais lá.
– Ele apareceu e sumiu. Um menino louro só de cueca –
disse Yuzu. – Mas era bonitinho…
– Ai, se eu pego esse tarado, minha filha! Ele fez alguma
coisa contigo, meu anjo?
– Pronto… – suspirou Ichigo, conhecendo o pai que tem.
– Pare, pai! Está tudo bem. Foi muito estranho. Será que
é coisa da minha imaginação?
“Onde você está, Naruto?”, pensou. Seu sensor espiritual,
ou intuição, o fez sentir a presença de Naruto no quarto novamente, e sem
pensar duas vezes, voltou a correr para o quarto.
– Como você sumiu daqui do armário e depois apareceu de
novo? – perguntou Ichigo.
– Ichigo, sua família é louca e quer me matar! Depois
explico esse jutsu – disse Naruto assim que viu Ichigo entrar pela porta do
quarto. – Já estou quase todo arrumado.
– Não vamos perder tempo. Coloque logo o blusão e os
sapatos e vamos sair daqui – Ichigo disse.
Ambos pularam a janela do quarto e foram para onde o
clone de Naruto poderia estar. Ichigo pediu para que ele não pulasse pelos
telhados das casas, pois isso poderia chamar atenção demais. Ele disse que
estava a sentir a presença do clone cada vez mais perto. Viraram mais uma
esquina e pegaram uma rua longa.
– Andar cansa mais, não é? – comentou Ichigo. Naruto só
balançou a cabeça. Muitas pessoas caminhavam pelas ruas e ele não poderia falar
sozinho. – Quando estamos em forma de espíritos, sentimos algumas sensações
humanas com pouca frequência e com menos intensidade. Olha, apesar de ter
perdido meu corpo, eu sei que tu confias no teu clone e acredito que está tudo
bem. Não estou mais tão chateado.
Naruto olhou para Ichigo e deu um sorriso sem jeito.
– Desculpe por ter te visto trocando de roupa, sei que
não estava muito confortável pra você. Eu fiquei meio sem jeito também, é que
outra vez, quando eu…
– Achei. Acho que cheguei na casa certa – disse Naruto.
– Hm. Aqui é a casa de uma amiga da minha escola. Tem
certeza? – perguntou Ichigo.
– Vou bater à porta.
Não demorou muito e uma menina bonita ruiva abriu a
porta. Ela usava presilhas no cabelo e tinha seios grandes. Naruto mal
conseguia olhar pra outra coisa.
– Ué, como você trocou de roupa tão rápido? – ela disse.
Ichigo entrou enquanto ela falava e avistou seu corpo
deitado num colchonete. Assim que fez a passagem para o seu estado humano,
sentiu tudo aquilo que deveria sentir de uma única vez. Fome, cansaço, dor na
cabeça, sede e vontade de usar o banheiro. Deu uma longa puxada de ar com a
boca, parecia que não respirava por anos. O que aconteceu enquanto ele estava
longe de seu corpo? “Nossa, estou um caco!”. Deu uma leve gemida e levou a mão
até a cabeça. Ele tinha um pequeno galo na testa e estava sem camisa.
– Ai, minha cabeça… – Ichigo gemeu.
– Ichigo! Você acordou. Eu jurava que estava em coma –
falou a menina.
– Orihime? Onde me achou? – perguntou.
– Ué, seu louco? Você estava caído no beco com aquele
menino louro ali, mas ele usava uma roupa de cosplay que eu não conhecia. Eu
quase fui atropelada hoje quando voltava de umas compras. As coisas foram muito
loucas hoje. Quando estava no caminho pra casa, te vi sendo carregado pelo
garoto mudinho. Eu e Sado-kun te trouxemos pra cá e te demos um banho – Orihime
explicou.
– Um banho!
– Sado que fez essa parte, fique tranquilo, eu juro que
não vi nadinha!
– Mas precisava disso? Cadê o Sado?
– Eu dei um banho profissional – falou Sado.
– O que seria um banho profissional? – Ichigo já estava
ficando confuso.
– Você estava com cheiro de salmão estragado, com chorume
e alcaparra com mostarda e limão – falou Orihime.
– Mas como isso aconteceu? Cadê Naruto?
– Ué, ele estava aqui agora mesmo. Pra onde foi?
– Não é a criança que está atacando sua geladeira? –
falou Sado.
Ichigo levantou num pulo e foi até a cozinha. Naruto
estava deitado com a barriga um pouco pra fora da camisa. Tinha em uma das mãos
uma caixa de suco de laranja e na outra tinha um rachi. Seu rosto estava meio
sujo e vários potes vazios estavam pelo chão.
– Naruto! O que está fazendo? – gritou Ichigo.
– Eu não estava aguentando mais! Apesar do gosto estranho
que a comida tem, foi mais forte que eu. Desculpe.
– Está tudo bem, eu compro mais amanhã – falou Orihime
com seu jeito dócil de sempre. – Ichigo, eu preparei isso aqui pra quando você
acordasse.
Ele teve que pensar duas vezes, conhecia os dotes
culinários que a amiga possuía e não eram bons, mas ele aceitou o bento com os
alimentos estranhos e começou a comer com a mão mesmo. A fome estava maior que
qualquer outra coisa que ele estava a sentir. Bebeu quase um litro de leite de
uma vez só pra tirar o gosto ruim da comida. Ichigo nunca tinha sentido uma
fome e uma sede como aquelas. Logo depois, sentiu um sono forte bater.
– Orihime, obrigado pela refeição e pelos cuidados. Tenha
cuidado da próxima vez que atravessar a rua. Precisarei ir, tudo bem?
– Mas já? Poxa, achei que fosse ficar mais.
– Eu e Naruto precisamos fazer umas coisas ainda, não é
Naruto? – Ichigo lançou um olhar feroz para o menino que só pode concordar.
Se despediram de todos e partiram de volta para a casa.
Sua família estava pronta para o jantar, mas ele passou direto e foi subindo
para o quarto. Naruto estava logo atrás dele.
– Cheguei com um amigo da escola, não jantarei, não
incomodem, estaremos no quarto.
Nem deu tempo que apresentações e eles já estavam no
quarto. Ichigo caiu na cama. Rukia surgiu de dentro do armário, dando um susto
nos dois. Apesar dele saber que ela dormia escondido ali, nunca se acostumou
com aquilo.
– Ichigo, achou seu corpo! Onde estava, o que houve? Por
que está cheirando bem? Por que vocês dois estão parecendo dois zumbis?
Sem nem dar tempo de resposta, Ichigo foi caiu na cama.
Naruto deitou no chão, com a barriga pra cima.
– Anã, hoje foi um dia bem louco – disse Naruto.
– Anã é a tua bunda branca, seu pirralho! Me respeite –
disse Rukia, inquieta.
– Rukia, deixe isso pra amanhã. Precisamos descansar.
Naruto, não vai dar pra arrumar um lugar pra você dormir hoje. Pode dormir aqui
na cama hoje, eu ficarei de costas pra você.
– Só vou ficar deixar passar dessa vez porque vocês estão
me dando medo – falou Rukia, fechando a porta do armário.
Naruto se levantou e deitou na beirada da cama. Ichigo
virou para a parede e fechou os olhos. Não demorou muito pro sono vir, foi
quase instantâneo. Ele apagou.
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